Já atravessei esse mar. Hora de atravessar um novo.

É ano novo judaico. Hoje, ás 5:30 da manhã na pedra do Arpoador, numa linda cerimonia para receber o ano de 5773, lembrei que é necessário desapego para seguir em frente. Estou deixando resíduos me fazerem re-sentir questões e padrões que não fazem mais sentido para mim. Estou ressentindo. Me peguei fotografando o sol nascer enquanto pensava sobre se o que eu estava sentindo poderia ser assunto de post. Então percebi que poderia simplesmente estar observando a linda revoada de gaivotas e sendo em mim, sem necessidade de ter uma opinião sobre o que acontecia. Simplicidade voluntária. Então, honro o que passou, sou profundamente grata a cada um dos dias pelos quais esse blog existiu. E percebo que o ciclo desse canal se fechou, ao menos na linguagem que existe hoje. Agora preciso me resguardar e viver sem a obrigação de tanta auto-observação para encontrar, mais leve e em mim, uma nova linguagem, um novo mar. Porque esse mar já abriu. E eu atravessei feliz e de braços abertos. Que venha o novo! Shaná Tová. E até um próximo mar, continente, planeta, dimensão.

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Entreouvido no salão de beleza

Sexta feira, resolvi sucumbir á ordem brasileira que esse é O dia de ir ao salão. Entre cera e esmalte, não pude deixar de ouvir…

“Não dá mais pra confiar em gente. Eu criticava aquelas pessoas que tinham zil gatos e que nunca saiam de casa. Achava que eram loucas. Hoje entendo e concordo, elas é que estão certas… A humanidade não tem mais jeito não. Eu desisti. Tenho é que me mudar pro mato, pras plantas, galinha, cavalo. A natureza, se recebe amor, dá amor de volta. A natureza só se revolta quando a gente faz coisas ruins pra ela…  Gente não. Gente só trai gente. Gente é bicho ruim mesmo.”

Deixei minha “Vida Simples” de lado pra ouvir melhor (me recusei a ler “Caras” e comprei a última edição na banca da frente pra checar as minhas mini-matérias que saíram lá – momento propaganda…). A voz estridente, entrecortada por entre “uis” e “ais” , tão comuns a uma sexta feira no salão, continuava falando sobre sua descrença nos Homens e em como a solução era se refugiar no verde total e nunca mais se relacionar com ninguém.

Fiquei com vontade de me meter… Ela não saberia mesmo quem era, já que estávamos as duas enfurnadas na cabine. Por algum motivo, não falei nada. Me arrependi e voltei pedalando pra casa com aquela voz na cabeça. Então, fica aqui a resposta. Se você conhece alguém de voz esganiçada que fez depilação na Gávea hoje de manhã e muito provavelmente sofreu uma traição daquelas ontem, pode fazer a gentileza de encaminhar esse post pra ela?

Querida voz, já parou pra perceber que você também faz parte da natureza? Parece estranho? Mas são tantas as evidências…. A mulher tem um ciclo de 28 dias, como a lua. O momento da fecundação é como o big bang, momento de criação pura e sagrada. Seus pulmões têm o mesmo formato de árvores e se prestam exatamente ao mesmo serviço. O quão mágico é isso? E nosso sistema circulatório? Pega uma foto da Amazônia e vê se os rios não fazem a mesma dança que suas veias e artérias? O seu – o meu, o nosso – sistema nervoso é como o universo. Nós somos o Universo. Nós somos parte integrante, constituinte e indissolúvel da natureza. Então, se você concorda comigo que a natureza dá amor ao receber amor, assim somos nós, seres humanos, já que somos parte dela. Então… se você tem recebido atitudes não positivas dos outros, o que está semeando? Não nasce uma figueira onde foi plantado um girassol… A humanidade tem jeito sim, querida voz. Tem muito jeito. Me arrisco a dizer que hoje tem mais jeito do que nunca. Não desista dela. Ao desistir dela, você desiste de si mesma, Afinal, você é parte da humanidade. Tenta dar amor pra gente. Vê o que acontece em troca… Tem funcionado pra mim e pra outros milhares de seres que se reconhecem como centelhas divinas. Te mando muito amor, luz e fé, voz. Que você seja polinizada. Que nós sejamos polinizados.

 

não sou muito de colocar imagens de terceiros aqui, mas achei que valia…

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Saudade de menos

Saudade de menos.

Menos pensamento, menos roupa, menos gente, menos estímulo, menos posse, menos apego. Saudade de decidir com menos. Saudade de sentar na beira da estrada esperando o primeiro ônibus passar pra me levar pra Sabe-se-lá-onde. Saudade de botar todo o pouco que tenho nas costas e ir caminhando e cantando. Saudade do deslocamento ágil, impreciso e absolutamente certeiro. Saudade de decidir agora meu rumo pra daqui a 5 minutos. Rumo que pode mudar o curso da vida. Que vai mudar o curso da vida.

Parece que quanto mais a gente tem, mais difícil fica caminhar. Mais difícil é perceber o que se sente, porque o material se coloca na frente do imaterial e acaba escondendo muito das preciosidades da vida. Saudade de mim mais leve, ponderando menos, muito menos.

Menos.

Saudade do menos. Saudade? É essa a palavra? Saudade é de algo que não se pode ter mais. E eu posso ter tudo isso. Posso ser tudo isso. Basta ter menos. Pra ser mais. De novo.

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Sopa de ai-meu-braço

Nunca soube cozinhar. Ou melhor, nunca tentei. Até passar um tempo fora. Foi em Bali que comecei a me aventurar na cozinha, em alquimias super distintas umas das outras. Um dia era couve flor, brócolis, coentro, passas e castanhas de caju na wok.  No dia seguinte, brócolis, ervilha torta, salsinha, tofu e passas, também na wok. E, em dias especiais, ervilha torta, batata, couve flor, brócolis, salsinha, coentro, passas, castanhas de caju na…. wok. O molho variava. Óleo de coco e limão. Shoyu e limão. E, em dias especiais… adivinhou: óleo de coco, limão e shoyu. Era sempre uma delicia e eu surpreendentemente, nunca enjoei.

Quando cheguei, há 3 meses, senti era hora de aprender com minha mãe algumas receitas novas. Sozinha, comecei a testar algumas saladas, sucos e sobremesas com base na alimentação viva. Até que estava m dando certo. Errei feio poucas vezes.  Até livro de receitas vegetarianas comprei. A ida a feira começou a fazer parte da rotina semanal.  Estava me achando.

Hoje fiquei com desejo de sopa de abóbora com gengibre. Aproveitando o meio quilo de abóbora que estava na geladeira, busquei uma receitinha básica na internet (se você cozinha, não me recrimine. Sei que sopa é mole de fazer, mas sou novata, vai…). Comecei a picação. (Será que já inventaram um utensílio específico pra cortar abóbora? Eita coisa difícil! A palma da minha mão ficou toda marcada.)

Mas enfim… Não sou boa de decorar receitas, então deixei o computador ali de um lado da bancada da pia e fui preparando tudo no outro lado. Abóbora, cebola, alho e gengibre devidamente cozinhando na panela com 1 litro d`água. Enquanto isso, grelho alguns pedacinhos de tofu pra salpicar em cima da sopa – invenção minha – e fatio bananas quase pretas pra congelar e fazer sorvete vegano amanhã.

Quando a abóbora está pronta, despejo tudo no liquidificador. Como eu decidi fazer 6 porções – na esperança de ficar deliciosa e comê-la pelo resto da semana – , era muita coisa pro liquidificador, mas deu no limite. Coloquei a tampa me certificando que estava fechadinha e liguei.

 Splash(zinho) na bancada, ao lado do computador.

Não coloquei a mão em cima da tampa e a pressão do líquido acabou fazendo um pequeno estrago. Nada demais. O computador saiu ileso dessa.

Achei que a sopa já estava suficientemente desencaroçada e levei a mistura pra panela de novo, pra adicionar azeite e sal – caldo de legumes industrializado estava na receita orginal, mas não entraria na minha super hiper mega saudável receita.

Mas… ainda estava super hiper mega encaroçado. E ralo. Achei que se colocasse no fogo alto a coisa melhoraria de figura. Não os caroços, não sou tão leiga assim, mas a consistência. Até melhorou, mas as bolotas de abóbora e cebola ainda estavam lá naquela mistura borbulhante.

Resolvi passar tudo pro liquidificador de novo. Dessa vez colocando a mão  em cima da tampa. BURRA! A pressão do liquido ainda estava lá e minha força displicente não deu conta do recado.

Splash(zão).

Paredes, facas, liquidificador, geladeira, bancada, pia, chão, casaco, blusa, calça, cabelo, computador e pele cobertos por um líquido encaroçadamente laranja. E fervente. Rindo em desespero vendo a cozinha toda laranja e pingando, comecei a limpar tudo menos eu mesma até que… Pu** que pariu!!!! Meu braço! Que dor!!!! Putz! Boto a pele debaixo da pia e, quando a pseudo sopa ai pelo ralo, uma vermelhidão intensa se mostra presente no meu pulso esquerdo.

Me queimei.

Estupidamente.

Muito estupidamente.

Mas fazer o quê? Com o braço limpo e dolorido, continuei cozinhando. Tentando engrossar a porcaria da sopa. Ai, meu braço. Enquanto esperava melhora na situação sopal, continuava limpando a cozinha. Chão, bancada, facas, computador. Que droga! Logo hoje que a diarista veio e deixou tudo tinindo…. Ai, meu braço.

Liguei pra minha irmã pra ver o que fazia com a queimadura, já que meus pais estão viajando. Ela não estava em casa e meu cunhado me ajudou. Me deu o telefone da sua irmã, que é médica e me disse, entre outras coisas, pra eu tomar uma novalgina e continuar molhando o braço em água corrente de temperatura ambiente. Ai, meu braço. Novalgina não era uma opção naquele momento. Eu, na minha busca natureba, achei que tomar remédio era desnecessário. Ai, meu braço. Mas a água corrente foi necessária. Dane-se economia de recursos naturais. Toma água. Ai, meu braço.

Depois de tudo semi limpo na cozinha e do meu braço semi sem dor, me parecia que a textura da sopa estava no ponto. Ai, meu braço. Enfim, comi sopa de abóbora rala com pedaços de cebola, sem gosto de nada. Ou melhor, com gosto de tofu grelhado, que foi a melhor parte do prato. E viva a improvisação. Ai, meu braço.

Depois de comer, comecei a escrever. Ai, meu braço. Ai, meu braço. A cada 2 frases levantava pra colocar o Ai, meu braço na água corrente. Percebi que era hora de sucumbir á droga. Ai, meu braço. Corri pro banheiro pra buscar uma Ai, meu braço novalgina. Coloquei na boca e aquele troço não queria descer. Gole d`água Ai, meu braço vai, gole d`água Ai, meu braço vem, finalmente me reacostumo a tomar um comprimido depois de sabe-se lá quantos anos Ai, meu braço. Continuo escrevendo e molhando o Ai, meu braço a cada 2 minutos. A dor vem da boca do estômago, confundindo meus pensamentos. (inclusive, se esse texto estiver desconjuntando, é culpa do Ai, meu braço).

Agora, uns 20 minutos depois que coloquei a pílula pra dentro, a dor começa a dar sinais de diminuição. É, tem vezes – poucas vezes – que um caldo de legumes instantâneo, dar adeus á economia de recursos naturais e tomar uma droguinha se fazem necessários.

 

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Abre a janela da alma

Passei 5 meses em Bali olhando nos olhos de todos que cruzaram meus caminhos, conhecidos e desconhecidos. Aquilo me encheu com meu próprio espírito. Ao voltar, continuei buscando os olhares alheios, sem sucesso. Percebi que sentiria muita falta dessa conexão instantânea e despretensiosa entre duas almas. O tempo foi passando e meu hábito foi se diluindo, desestimulado pela frustração diária. Os únicos olhos que passaram a penetrar os meus eram os dos que eu conhecia. Um tempo depois, dos que eu conhecia bem. E então dos que eu conhecia muito bem. Para então só trocar olhares comigo mesma no espelho. Ou nem isso.

E observei a inspiração se diluir junto com o hábito. Estava ausente.

Na semana passada decidi fazer uma experiência: eu olharia nos olhos de todos que cruzassem meu caminho. Sai de casa de manhã a caminhar. O primeiro abaixou o olhar, o segundo me encarou, a terceira olhou de volta e sorriu. Decidi. Não só olharia nos olhos, mas sorriria. A cada sorriso, eu ia me enchendo de leveza e felicidade, mesmo não recebendo nada em troca, nenhum olhar. A maioria das pessoas se incomodava com a invasão de privacidade que um olho-no-olho provoca. Eu estava achando engraçado.

Fiquei pensando… porque evitamos tanto esse tipo de troca?

Muitas informações e afazeres, certamente. Mas, principalmente, medo que o outro te leia. Será que alguém que está 100% satisfeito e feliz evita o olhar do outro? Eu não. Se estou absolutamente contente, quero mais é espalhar luz pelo olhar. Caminho olhando pra frente, não pra baixo. Caminho no maior estilo comercial de Pantene com ventilados nos cabelos, pontinha de sorriso estampado no rosto. Mas, se não estou 100%, fico cabisbaixa, pensativa, remoendo questões inutilmente, sem dar valor ao presente. A solução do meu problema pode passar por mim despercebida. Estou muito ocupada me pré-ocupando. Tenho medo que o que me conhece leia nos meus olhos minha infelicidade, mesmo que parcial. Pavor que o que me conhece muito saiba exatamente o que se passa na minha mente através do meu olhar. Fobia de me olhar no espelho e me reconhecer infeliz.

Nesse dia, ao buscar o olhar do outro, percebi que muitos poucos de nós somos 100% felizes. É fácil ler felicidade genuína nas pupilas de qualquer um. Elas exibem o brilho raro de uma orquídea. Mesmo os que olhavam de volta tinham uma certa desconfiança. Os que sorriam ora o faziam por vergonha, escondendo na risada um desconforto. Poucos retribuíram com afeto e alegria. Poucos, mas suficientes para me fazerem lembrar que sim, problemas existem, mas precisamos deixar a luz entrar pela janela da alma e rasgar nosso interior. E aí as soluções aparecem.

No dia seguinte, fui dar uma volta de bicicleta na Lagoa. Havia retomado a percepção do brilho infinito que há nas pedras e árvores que a circundam. Meu olhar estava presente. E as soluções apareceram. Voltei.

Voltar não é fácil. Mas recompensa.

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Decidindo com o coração

Eu estava meio de cabeça pra baixo, com o cóccix apoiado na base cadeira e os ombros em uma almofada de formato cilíndrico no chão. As pernas pro alto, esticadas e o pescoço e a cabeça encostados no piso de tábua de madeira. Tudo incomodava. As escápulas que não entravam o suficientemente para fazerem os ombros relaxarem, o sacro desalinhado com os ombros, as pernas cansadas de fazer força para permanecerem esticadas, as coxas rodando pra dentro e os joelhos pra fora. Tentei ajustar a postura aqui e ali. Mas não consegui nenhuma melhora. Nada se encaixava. Culpei o desconforto numa questão que tenho na cervical e nas mandíbulas. Minha mente, irritadiça, ficou pensando na osteopata que eu preciso marcar. Na falta de grana pra pagar. Nos pagamentos que ainda não entraram. Estou sem. Sem. Sem.

Até que senti os passos dela fazendo o chão vibrar. Ela se aproximava. Colocou as mãos na minha coluna, na altura das costelas e me alongou, fazendo meu osso esterno abrir. Senti tudo se encaixar. O fêmur entrou no quadril, o sacro afundou nas mantas que estavam em cima da cadeira, o cóccix veio pra dentro, o abdômen relaxou e alongou, as escápulas entraram, os ombros relaxaram e o pescoço ganhou espaço, assim como minha mente. Suspirei em gratidão. Aquele toque tão simples mudou tudo. Ela continuou me tocando, dessa vez com palavras: “O que está acontecendo com seu coração? Com tanta coisa linda que você tem pra dividir… Você está começando uma carreira nova e linda. Você tem sensibilidade e usa as palavras de uma maneira que toca as pessoas. O que está acontecendo? Abre esse coração. Permita.”

Ouvi aquilo com o coração físico aberto, o coração que ela me ajudou a abrir com seu toque manual. Mas agora ela me tocava em outro espaço. Me tocava não só na mente, mas na alma. Suas palavras vieram cheias de verdade e amor. Ela começava a me tocar no coração espiritual.

A postura seguinte trabalhava também a abertura de peito. Ela veio me ajustar, mas dessa vez não me tocou. Só me indicou o que fazer: novamente, abrir o coração. E eu corrigi o pescoço, achando que estava fazendo o que ela falava. “Carolzinha, não abra o coração através da mente. Abra o coração através do coração.”

No fim da aula, sentados de olhos fechados e pernas cruzadas, com as mãos em gesto de prece em frente ao coração, seguimos seu comando. “Incline sua cabeça em direção ao centro do seu peito. Conecte com essa energia, que é de puro amor e coragem. Namastê.”

Meu dia mudou. Naturalmente, sem nenhum esforço, deixei de tomar decisões com a mente. Passei o resto do dia decidindo com o coração. As respostas que eu há tanto procurava estão vindo, a dúvida está indo embora. Estou voltando pro puro amor e coragem, com a fé de que as respostas continuarão vindo. Numa espiral crescente, quanto mais acredito, mais elas vêm. Estou com. Com. Com.

A aula acabou há somente 4 horas. E muito se resolveu desde então. O tempo é quântico quando sua contagem é vivida com o coração.

 

Gratitude, Shakti. Por ter me permitido me permitir.

Gratidão, Iyengar Yoga. Por me permitir experienciar no meu corpo os padrões de comportamento da minha mente e voltar ao meu espírito.

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Ano novo particular

Hoje completo mais um ciclo solar. Um ano novo particular. Há exatos 26 anos o Sol passava por esse mesmo ponto do Zodíaco. Começa hoje uma nova etapa para minha consciência. Dia de rever e prever. Sim, prever. Porque, revendo, percebo a facilidade que foi criar minha realidade no último ano. Então, ao co-criar o que quero que aconteça, prevejo meu futuro. Com a certeza de que, se a previsão estiver equivocada, a realidade será ainda mais linda do que a vontade do meu coração.

E qual é a vontade dele? Inspiração. Inspirar. Pirar.

Inspirar ar puro. Inspirar prana. Inspirar todo o Universo e obter inspiração dele. Inspirar os que estão próximos, os que me lêem, os que me ouvem, os que me sentem. Pirar nessa piração divina de todos os dias.

Quero nesse novo ciclo reconhecer e ser reconhecida. (re)conhecer. Porque a gente já sabe de tudo isso. Estamos só relembrando a sabedoria que já pulsa em nossas veias, que se multiplica em nossas células, que reside em nossos átomos, em cada átomo. A cada sinal, a cada sincronicidade, cada contato, cada olhar, respiração, expiração, a cada inspiração fica mais claro que sim, existe um fluxo abundante pra cada um de nós. O exercício é sutilizar sua percepção e relembrar essa sabedoria a ponto de escutar o que o seu eu mais eu está sussurrando. E aí, obedecê-lo, deixando pra trás o que for necessário, com a certeza que o que vem é ainda maior.

Nesse novo ciclo do sol, quero sutilizar ainda mais. Quero ouvir ainda mais. Quero força e clareza para permanecer com o que for necessário, deixar pra trás o que não mais me serve e transmutar o que pode ser modificado. Quero multiplicar, e não dividir, para obter os meios materiais, emocionais, físicos, energéticos e espirituais para cumprir minha missão e que ela fique mais clara a cada dia.

Viva a vida! Viva o ciclo! Viva as vidas! Viva os ciclos! Viva viver. Viva vivendo.

 

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Na mais perfeita desordem

Ontem fui requisitada pra supervisionar a aplicação de espelhos no banheiro do apartamento dele. Todos estariam nos seus respectivos escritórios e eu, a abençoada que trabalho de casa, fui escalada. Peguei o carro com o laptop no banco detrás, feliz que, surpreendentemente, não havia trânsito. A felicidade foi se diluindo á medida em que eu procurava vagas. Roda o quarteirão uma vez. Nada. Duas vezes. Saco essa coisa de ficar salvando os outros. Três vezes. Eles acham o quê? Que eu não tenho mais nada pra fazer? Quatro vezes. Não podem ficar achando que estou sempre disponível, porque não estou! Pego o telefone esbravejando. Olha só, tô há 20 minutos rodando pra achar vaga e não existe a possibilidade de parar aqui! Não é possível! Ué, Carol, porque não me ligou antes? Para na garagem.

Ah, tá.

São 10 horas e o calor já está aquela diliça. Subo o elevador e me vejo no espelho. Devia ter passado maquiagem hoje, já estou um caco. Chegando lá, nem olho na cara dele. Na noite anterior, quando fui requisitada, ou melhor, avisada de que teria de passar o dia nessa missão, já tinha dado pití. Depois da saga pela vaga, ele sabia que meus dentes estavam afiados. Pego o computador e me coloco naquele quarto inabitado. A obra acabou há tempos, mas aquele cômodo ainda está sem vida e aquilo me incomoda. Ele vem me agradecer e se desculpar e eu continuo não olhando pra ele. Não sei se de charme ou de raiva. Ou de um charme raivoso, porque definitivamente não é uma raiva charmosa.

Depois de dez minutos dele tentando se despedir pra ir pro trabalho, eu dou o braço a torcer e levanto o rosto. Ih, você cortou o cabelo. Ficou bom. Agora vai, que tenho muito o que fazer, sabia? Não sou desocupada, muito pelo contrário, tá? Checo e-mail e começo a escrever. Tenho uma matéria sobre déficit de natureza pra entregar em duas semanas e por mais que eu domine e ame o tema, nada flui. Entrevisto uma pessoa por telefone, enquanto me preocupo se os homens do espelho vão chegar enquanto eu estou com ela na linha, mas dão 11 horas e nada deles. Cadê esses homens? Acham o quê? Que eu não tenho nada melhor pra fazer?

Acabo a entrevista e tento escrever de novo. Nada sai. O calor piorou. São meio dia e quartos inabitados não possuem ar-condicionado. Ligo pra ele. E aí? Cadê esses homens? Tão chegando, acabei de ligar pra empresa. Cinco minutos depois, toca o interfone. Pode subir, Seu João! Eles visitam os banheiros pra ver se está tudo em ordem pra aplicação. Ó, moça, vai precisar desligar o registro de água, tá? Ligo pro Seu João. Ih, dona! Vai pra desligar não. Tô sozinho aqui na portaria e tem que avisar essas coisas com antecedência pra falar com os moradores que o prédio vai ficar sem água. Desligo o interfone e ligo pra ele. Por**, você não avisou pro porteiro que ia precisar desligar o registro? Ih, esqueci. Ai, car****.

Depois de muito falar com Seu João, ok, ele desligou a água, “mas só por 20 minutos, hein!”. Os homens disseram que estariam prontos pra aplicar quando eu desse o ok, mas, ok dado,  tinham esquecido de checar se o tamanho do espelho tava correto e… não estava. Param pra cortar o espelho. E eu volto pra tentar escrever. Nada. De repente… barulho de água. Ai, mer**, tá vazando tudo e o banheiro tá alagando. E eu não sei onde fica nada nesse apartamento. Cadê balde? Pano de chão? Rodo? Corro pra lá e pra cá e resolvo o alagamento com uma lixeira sem saco de lixo embaixo do vazamento. Os homens descem, estão prontos pra aplicar o espelho logo agora que o banheiro está um caos. Pu** que pa***! Hoje não é meu dia. Depois de mais interfone, torneira, água, rodo, sobe, desce, descobre que ele tinha fechado o registro errado, o vazamento para, eles entram no banheiro, eu tento escrever, não consegue, tenta aplicar, não consegue. O quê? É, moça. O tamanho do espelho tá errado. Não vai dar pra botar hoje não. Ahm? Depois de 3 horas você me diz que não vai dar pra botar? Acha o quê? Que eu não tenho nada melhor pra fazer? Me segurei pra não xingar.

Foi estressante. Me irritei. Esperneei, suei, suspirei, quase xinguei. Até que não tinha mais nada que eu pudesse fazer. Tomei uma chuveirada gelada e senti o sangue esfriando. Não ia adiantar tentar escrever com a mente fervendo daquele jeito. O transtorno de déficit de natureza ia ter de esperar eu esfriar ainda mais. A ansiedade, depressão, transtorno de déficit de atenção, obesidade e hipertensão conseqüentes da desconexão com a natureza iam ficar pra depois. Ainda molhada, deitei nas almofadas na varanda, suspirei, inspirei, expirei, respirei.  Agora, eu não tinha nada melhor pra fazer além de olhar pra cima, pras nuvens das mais diferentes personalidades que escorregavam em todas direções num céu azul, iluminado. As luzes saíam em feixes suavemente determinados por detrás daqueles suspiros em forma de nuvem. Como uma criança que observa o céu, vi elefantes, barcos, monstros, deuses, Ganesha, Prana. A natureza celeste se comunicava comigo. Sorri. A mente descansou e o coração cresceu. Os pássaros dançavam no silêncio, lentamente, alto o suficiente para só ouvirem o vento. Escolhia um pra acompanhar, até que ele saia do meu campo de visão e eu escolhia outro, e outro e outro. Uma coreografia na mais perfeita desordem. Chorei sorrindo, entendendo e perdoando, tudo está dentro da Ordem Divina. Estou pronta pra escrever sobre o transtorno de déficit de natureza, porque Ela me curou do meu próprio transtorno.

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Buscando equilíbrio ao pedalar

Quinta passada foi dia de marcar como “feitos” dois tópicos da minha coloridíssima planilha intitulada ‘Afazeres da volta’. Coloridíssima por que, frente à variedade de temas a serem resolvidos, indo de consultas médicas a entregas de textos passando por burocracias de banco, senti a necessidade de organizar tudo em cores. Cada cor, um assunto. Quinta foi dia de apagar a cor amarela, relacionada a transportes: ir ao Detran e recauchutar minha bicicleta.

Apesar de ter chegado a três semanas, ainda estou com dificuldade em organizar meu tempo. As horas em Bali passam de outra maneira e eu não tinha tantos afazeres por lá, o que me permitia dar espaço a acasos e me entregar a eles. No Rio, estou tentando tanto me focar nas tarefas a serem cumpridas que as sincronicidades que se apresentam são recebidas com um “Agora não posso prestar atenção em você, estou atrasada”. Coitadinhas, estão se esforçando tanto…

Mas naquele dia eu não ia conseguir fugir delas.

O porteiro aqui do prédio me deu a dica de um mecânico de bicicleta que bate ponto na Lagoa. Lá fui eu, pedalando e cantando e seguindo a canção que dizia ironicamente “vamos buscar equilíbrio ao pedalar”, tentando me entender com a magrela capenga: guidon torto, banco ajustado pra alguém com 20cm a menos do que eu e marchas engasgando. Chegando onde o Severino me indicou, só vi um cara meio estranho, com cara de maluco e roupas sujas. Até tinha uma bicicleta parada ali, mas estava tão cheia de bolsas e tranqueiras que me perguntei se aquele não era o meio de transporte do mendigo, que nesse momento colocava um objeto de pano não identificado no chão de pedras portuguesas. Perguntei pra ele: “É você o da bicicleta?” “Sou sim, peraí um pouco que eu já vou”, ele respondeu enquanto amarrava um fio de náilon naquele troço esquisito. Depois passou o fio por cima de um galho de árvore, formando algo que funcionaria como uma roldana (me desculpem os das ciências exatas, mas pra mim aquilo era uma roldana…). Puxou o fio e começou a subir daquele objeto uma fita métrica com um coração humano feito de pano no topo. Não entendi nada.

Orgulhoso, ele me disse que fazia parte de umas das instalações dele. “Sou artista e ilustrador, além de mecânico, minhas performances são pra alertar sobre os acontecimentos, né? Até que ponto vão esconder tudo isso?”, ele me perguntou numa mistura de indignação e ousadia. Perguntei qual era a representação da instalação e ouvi como resposta: “É um estudo sobre fé e amor.”

Depois dessa, resolvi dar ouvidos ao acaso e embarquei numa conversa inusitada. Eu só perguntava “por quê?” e recebia lindas pérolas como resposta. Rui Guile – “a mistura de Rui com Guilherme, pra ser um nome artístico marcante” – é um ex-cabeludo e barbudo de Belém que trabalha no mesmo ponto da Lagoa desde 2001, ali perto da pista de skate. O cabelo ele raspou recentemente pra uma performance “sobre a morte”. Aproveitou e usou a pseudo-peruca em um auto-retrato. As pessoas ainda se surpreendem quando cruzam por ele de cabeça pelada. Ouvi inúmeros “ih! Tirou o cabelo, Rui?” vindos de ciclistas das mais diferentes classes sociais.

As instalações e performances que essa figura faz são pra chamar atenção da Prefeitura. Rui Guile quer um quiosque “tipo chaveiro” pra consertos de bicicleta ali naquele lugar. “O Estado tem que entender que construir esse quiosque seria um incentivo á saúde e á qualidade de vida, mas o que acontece é que os políticos se focam no interesse próprio, então acham que esse meu pedido é também interesse próprio meu, mas é pra um bem da sociedade.”

Rui Guile tocou em muitos questionamentos  meus, mesmo sem eu induzir a respostas, afinal não disse nada além de “porque”. Tagarela, – daqueles que começa uma frase de um jeito e termina num assunto totalmente diferente no que, no fundo, faz total sentido – questionou porque o poder público no Brasil não tem voz e justificou isso da seguinte maneira: “Coca-cola, Colgate, essas coisas aí do capitalismo, é tudo dogmático. É que nem religião, que a gente acha que precisa. Pra sociedade funcionar, o ser humano tem é que perder o medo da morte.” “Por quê?”

“Isso aqui é tudo ilusão mesmo…”

E foi assim, tirada após tirada, que ele foi me mostrando que, apesar da planilha colorida ser importante nesse momento, eu estava perdendo o colorido da vida. Estava perdendo o olhar de turista que se deixa encantar por momentos como esse, sem horário, sem objetivo, sem pretensão. Estava perdendo a beleza dos momentos.

Com a bicicleta arrumada, fui pedalando pra casa. Não sem antes parar pra admirar esse pôr do sol abençoado da Cidade Maravilhosa refletido na Lagoa. Não sem antes perceber que Rui Guile me deu a possibilidade de dar pedaladas mais certeiras, usando menos força pra me movimentar mais livremente. Centrada, achei equilíbrio ao pedalar.

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Processando…

Achei que voltar seria mais simples. E escrever sobre a volta, mais fluido. A mente ainda está processando muita informação nessa Babilônia Maravilhosa. Fica aqui minha promessa de postar com freqüência, mas nunca escrevi por escrever. sSmpre esperei a inspiração vir. Continuarei com a máxima: a criação aparece quando a mente abre espaço pra ela.

Num espaço cheio, medito pra esvaziar e entender os processos com leveza.

Enquanto isso, fica aqui minha certeza de que tudo está em seu devido e divino lugar, que essa viagem é só o começo. Está tudo na mais perfeita (des)ordem: família, amigos, profissão, coração, corpo, mente, alma, espírito. Amo como nunca.

E, de quebra, um clippingzinho… A revista Bons Fluidos me entrevistou pra uma matéria sobre períodos sabáticos. Ficou bem bacana, a matéria tá aqui. E a Mara Luquet, do Jornal da Globo, pediu pra mandar uma pergunta sobre finanças pra ela. E eu atendi prontamente seu pedido! O link aqui.

 

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